Tradução: David Ribeiro

Extraído do Livro “Logic and Theism: Arguments for and Against Belief in God” de Jordan Howard Sobel – Chapter 2 – Classical Ontological Arguments – Part Three: St. Anselm’s argument of Proslogion II

Resumo

[1] Pois bem, Senhor, Tu que dás entendimento à fé, concede-me que eu possa entender, tanto quanto achares adequado, que Tu existes como cremos que existes, e que Tu és o que cremos que és. [2] Agora cremos que Tu és algo do qual nada maior pode ser pensado. [3] Ou pode ser que algo de tal natureza não exista, visto que “o Louco (Ou Tolo em algumas traduções) disse em seu coração: Não há Deus?” [Salmos 14, l. 1, e 53, l. 1.] [4] Mas certamente, quando este mesmo Louco ouve o que estou falando, a saber, “algo-do-qual-nada-maior-pode-ser-pensado”, ele entende o que ouve, e o que ele entende está em sua mente [intelecto, entendimento], mesmo que ele não entenda que realmente existe. [5] Pois uma coisa é um objeto existir na mente, e outra coisa é entender que um objeto realmente existe. [6] Assim, quando um pintor planeja de antemão o que vai executar, ele o tem em sua mente, mas ainda não pensa que realmente existe porque ainda não o executou. [7] No entanto, quando ele realmente pintou, então ele o tem em sua mente e entende que existe porque ele agora o fez. [8] Até mesmo o Louco, então, é forçado a concordar que algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado existe na mente, uma vez que ele entende isso quando ouve, e tudo o que é compreendido está na mente. [9] E certamente aquilo-do-que-nada-maior-não-pode-ser-pensado não pode existir somente na mente. [10] Pois se existe somente na mente, pode-se pensar que existe também na realidade, o que é maior. [11] Se então aquilo-do-que-nada-maior-não-pode-ser-pensado existe somente na mente, esse mesmo aquilo-do-que-nada-maior-não-pode-ser-pensado é aquilo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado. [12] Mas isso é obviamente impossível. [13] Portanto, não há absolutamente nenhuma dúvida de que algo-do-que-nada-maior-não-pode-ser-pensado existe tanto na mente quanto na realidade. (Anselm 1965, tradução de M. J. Charlesworth.)

4.1. Os termos gramaticalmente definidos de Anselmo, "algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado" e "aquilo-do-que-nada-maior-não-pode-ser-pensado", podem lembrar a prática comum em provas de dedução natural de instanciação existencial, por meio das quais, quando se dá a ideia de que existe algo de um tipo, para fins de cálculos lógicos, "chega-se a um particular desse tipo". Anselmo oferece uma prova de que algo do qual nada maior pode ser pensado existe (veja suas três primeiras frases), com o que, olhando para o futuro, ele quer dizer "existe na realidade". Mas ele não chega a essa conclusão na última frase do Proslogion II, que não é uma generalização existencial, mas uma declaração sobre aquele "algo-do-que-nada-pode-ser-pensado" específico introduzido na frase (4). Isso permite que Anselmo continue, no Proslogion III, falando desse indivíduo. Para estudar o argumento do Proslogion II, apresento a conclusão existencial geral de que algo maior do que o qual nada pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade.

O argumento do Proslogion II consiste, direi, em um argumento preliminar, sentenças (4) a (8) e o argumento principal, sentenças (8) a (13). A função do argumento preliminar é fornecer uma premissa para o argumento principal. Agora, em linhas gerais, o argumento preliminar: Há algo maior do que o qual nada pode ser concebido na mente do Louco, pois ele compreende essas palavras quando ouve Anselmo dizer o que está prestes a provar. Disto, Anselmo deduz que um algo-maior-do-que-nada-pode-ser-pensado está na mente do Louco. E agora o argumento principal: Mas mesmo o Louco que diz que Deus não existe pode ver que não é possível que essa coisa exista apenas na mente, e não também na realidade. Pois, se existisse, não existiria tanto na mente quanto na realidade, e existiria tanto na mente quanto na realidade, o que é obviamente impossível. Portanto, existe tanto na mente quanto na realidade e, assim, como seria provado, algo do qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade.

4.2 ‘Algo’ ou, em outras palavras, ‘um’. Este argumento de Anselmo pretende estabelecer que,

Algo do qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade

Ou, em outras palavras, que,

Um ser do qual nada maior pode ser concebido existe tanto na mente quanto na realidade.

Como se deve entender a conclusão pretendida? Sejam ‘Gx’, ‘Mx’ e ‘Rx’ abreviações, respectivamente, de ‘x é tal que nada maior pode ser pensado’, ‘x existe na mente’ e ‘x existe na realidade’. Sabemos que possíveis simbolizações da conclusão de Anselmo são

(x)[Gx (Mx & Rx)]

e

(x) [Gx & (Mx & Rx)],

Com quantificadores abrangendo coisas que existem na mente ou na realidade.46 Peter van Inwagen observa que, embora “o latim... não tenha nenhuma palavra correspondente a ‘um’ ou ‘uma’... há [uma] ambiguidade no latim”, há no latim uma ambiguidade correspondente àquela “enraizada em duas funções diferentes desempenhadas por [estes] artigo(s) indefinido(s) [em inglês]” (van Inwagen 1994, p. 80). M. J. Charlesworth parece se esforçar em sua tradução de 1965 para manter essa ambiguidade.

Conjecturo, ignorando o latim dos dias de Descartes e Anselmo, que as indeterminações em seus escritos que correspondem à ambiguidade do artigo indefinido eram mais elusivas e sedutoras do que esta do inglês moderno. Também conjecturo que eles ou não dispunham de recursos perspicazes para resolver essas indeterminações ou dispunham de recursos muito inferiores aos da lógica moderna. O problema, suspeito eu, não estava tanto em suas teorias lógicas, mas em sua linguagem para definição lógica e cálculo. Eles elaboravam sua lógica de uma forma um tanto estilizada para os propósitos do latim, e não, como podemos fazer, em linguagens simbólicas completamente regimentadas que são, por um projeto cuidadoso, livres de ambiguidades e anfibolias. Certamente, Anselmo pretende, em Proslogion II, estabelecer a existencialidade de que há pelo menos uma coisa além da qual nada maior pode ser pensado, que existe não apenas na mente, mas na realidade. Ainda assim, a ambiguidade universal/existencial poderia exercer persuasão ilícita. Pois uma prova da generalização universal poderia ser confundida com uma prova de sua generalização existencial similar. E uma prova dessa generalização universal a partir do material em Proslogion II é possível. Essa prova – à qual Anselmo não teria objeção, embora não seja a prova que ele pretendia – vem em seguida. Ela é seguida por uma prova – desta vez essencialmente a prova que Anselmo pretendia – para essa própria generalização existencial.

 

4.2.1 Que qualquer coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade. A ser provado: (1) Qualquer coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade:

(x)[Gx (Mx & Rx)]

ou equivalentemente

(x) [Gx & (Mx & Rx)].

Para fins de uma prova indireta de (1), supomos: (2) Não é o caso de que toda coisa maior do que a qual nada pode ser pensado exista tanto na mente quanto na realidade:

(x) [Gx (Mx & Rx)]

Ou, equivalentemente, (3) Existe uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado que não existe tanto na mente quanto na realidade:

(x) [Gx & (Mx & Rx)]

Seja j uma coisa tal que (3) afirma que existe pelo menos uma, isto é, seja ‘j’ abreviação do termo descritivo indefinido ‘algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado-que-não-existe-tanto-na-mente-quanto-na-realidade’.

(4) j é uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado, e j não existe tanto na mente quanto na realidade:

Gj & (Mj & Rj).

(5) j existe na mente:

Mj.

Argumento subsidiário informal. Entendemos ‘j’, isto é, ‘algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado-que-não-existe-tanto-na-mente-quanto-na-realidade’, e o que entendemos está na mente. Não há contradição nesta descrição, pois, se houvesse, então, ao contrário de (3), não haveria algo com esta descrição. (Cf. nota anterior.)

(6) j é algo do qual nada maior pode ser pensado: Gj. de (4)

(7) j não existe tanto na mente quanto na realidade: (Mj & Rj). de (4)

(8) j não existe na realidade: Rj. de (5) e (7)

(9) j não é algo do qual nada maior pode ser pensado, Gj.

Argumento subsidiário para (9) a partir de (5) e (8). Podemos pensar em algo j’ que é exatamente como j, exceto que, embora j por (5) e (8) exista na mente, mas não na realidade, j’ existe na realidade, bem como na mente. Mesmo que existisse apenas na mente, poderia ser pensado que existe também na realidade.47 Esta coisa j’ na qual podemos pensar é maior do que j, pois existir tanto na mente quanto na realidade é maior do que existir apenas na mente. Portanto, (9), j não é uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado. Fim do argumento subsidiário.

4.2.2 Que pelo menos uma coisa, além da qual nada maior pode ser pensado, existe tanto na mente quanto na realidade. No entanto, Anselmo não legou o que meramente pode ser confundido com uma prova da generalização existencial. Seria difamatório sugerir que ele próprio foi "jogado" pela anfibolia de "uma coisa, além da qual nada maior pode ser pensado, existe tanto na mente quanto na realidade". Pois há claramente uma prova, uma prova impressionante, mesmo que não perfeitamente sólida, no Proslogion II dessa generalização existencial, e não há evidência de que Anselmo supôs ter provado, ao mesmo tempo, a generalização universal.

O "cerne" da prova, a partir do material do Proslogion II, para a generalização universal é o argumento subsidiário informal que procede de Mj e Rj para Gj. Usando os termos deste argumento informal, pode-se construir uma prova a partir da generalização existencial de que uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe em uma mente, (x) (Gx & Mx), para a conclusão da generalização existencial, (x) [Gx & (Mx & Rx)]. Isso é muito relevante para o texto de Anselmo, que primeiro estabelece que uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe pelo menos em uma mente: "Até o Louco... é forçado a concordar que algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado existe na mente, uma vez que ele entende isso quando ouve, e tudo o que é entendido está na mente." Isso, que algo-do-que-nada-maior-pode-ser-pensado existe na mente, foi para Anselmo uma premissa para sua prova da existência de tal coisa tanto na mente quanto na realidade. Era uma premissa estabelecida por um argumento preliminar a priori encapsulado nas palavras "visto que ele compreende isto quando ouve, e tudo o que é compreendido está na mente". A prova em 4.3.1, que poderia ser de alguém, mas, digamos, não foi de Anselmo, confundida com uma prova da existência na realidade também, não usa esta premissa. Agora chegamos a uma prova dessa existência que a usa. Ela parte desta premissa, apresentada por um argumento preliminar, através de um argumento subsidiário indireto que, após sua suposição, zomba do argumento subsidiário da prova anterior, para a conclusão de que aquela coisa na mente do tolo existe também na realidade, e além. A ser provado: (1) Pelo menos uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade:

(x) [Gx & (Mx &Rx)]

(2) Pelo menos uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado existe na mente: premissa

(x) (Gx & Mx)

Argumento preliminar. Mesmo um tolo que dissesse em seu coração: Não existe Deus, poderia entender do que se trata (1), e entender as palavras "uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado", e o que ele entendeu estaria em sua mente. Fim do argumento preliminar.

Seja j tal coisa.

(3) j é uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado, e j existe na mente:

Gj & Mj.

(4) j é uma coisa maior do que a qual nada pode ser pensado:

Gj.

(5) j existe na mente: de 3

Mj.

(6) j existe na realidade:

Rj.

Argumento subsidiário para (6) a partir de (4) e (5). Suponha, para fins de um argumento indireto, que (7) j não existe na realidade, Rj. Então, podemos pensar em algo j’ que é exatamente como j, exceto que, embora j por (5) e (7) exista na mente, mas não na realidade, j’ existe na realidade, bem como na mente. (“[Mesmo o que] existe somente na mente... pode ser pensado como existindo também na realidade...” Anselm 1965, p. 117.) Essa coisa j’ na qual podemos pensar é maior que j, pois existir tanto na mente quanto na realidade é maior do que existir somente na mente. Portanto, j não é uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado, Gj. Mas por (4) existe tal coisa, Gj. Esta contradição completa nosso argumento subsidiário para (6) a partir de (4) e (5).49

(8) j é uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado, e j existe tanto na mente quanto na realidade:

Gj & (Mj & Rj) a partir de (3) e (6).

(9) Pelo menos uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade: Q.E.D.

(x) [Gx & (Mx & Rx)] a partir de (3).

4.3. O ônus da prova recai sobre seu argumento preliminar. A prova de Anselmo assemelha-se, em certos aspectos, à prova modal de Charles Hartshorne, discutida no próximo capítulo. A premissa de que pelo menos uma coisa, da qual nada maior pode ser pensado, existe na mente, (x) (Gx&Mx), assemelha-se ao Postulado Intuitivo de Hartshorne, que, adaptado à grandeza, é que a grandeza é possível, ♦(x) Gx. Essa premissa modal, argumento no próximo capítulo, é estritamente uma petição de princípio, em um argumento que provaria que pelo menos uma coisa é grande, (x) Gx, uma vez que, dadas as estipulações assumidas a respeito da grandeza, essa premissa é logicamente equivalente a (x) Gx, que é ainda mais do que o que se supõe explicitamente que seja provado. A premissa (x) (Gx & Mx), sem argumento preliminar, seria similarmente uma petição de princípio no argumento principal de Anselmo, que estendi para provar que existe algo do qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade, (x) [Gx & (Mx & Rx)]. Dada a estipulação de Anselmo a respeito da grandeza, de que algo que existe tanto na mente quanto na realidade é maior do que algo semelhante, exceto que existe apenas na mente, é necessário que (x) [Gx (Mx & Rx)]; veja a demonstração na seção anterior. Essa necessidade implica que (x) (Gx & Mx) é logicamente equivalente à conclusão (x)[Gx &(Mx & Rx)].50 Dessa equivalência, podemos deduzir que o trabalho principal do Proslógio II é feito no que lancei como seu argumento preliminar para (x) (Gx & Mx).

4.4. A ‘acusação’ contra o argumento preliminar: ‘É um non sequitur’. Os esforços de Anselmo em Proslogion II podem ser, para alguns leitores, instigados por uma indeterminação correspondente à ambiguidade existencial/universal de ‘um(a)’ em ‘uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade’. Seus esforços foram, para ele, favorecidos pela disponibilidade do que pode parecer uma premissa inegável, que, no entanto, é uma petição de princípio, a menos que seja bem argumentada, visto que não é inegável. Seu oponente, Gaunilo, sustenta que não é inegável para qualquer um a quem o argumento possa ser dirigido persuadir, isto é, qualquer um que ainda não esteja convencido de que pelo menos uma coisa do que a qual nada maior pode ser pensado existe tanto na mente quanto na realidade. Pois qualquer pessoa em tal situação pode dizer que, pelo que sabe, não existe tal coisa em sua mente no sentido necessário ao argumento. "Um ser maior do que todos os outros que podem ser concebidos", entendo Gaunilo como dizendo, está inegavelmente na mente de um cético quando Anselmo lhe diz essas palavras, nem mais nem menos do que estaria "uma ilha maior do que todas as outras que podem ser concebidas" quando algum sonhador diz essas palavras a alguém que compreende-o inegavelmente na mente deste ouvinte. Em nenhum dos casos, entendo Gaunilo como dizendo, pode a pessoa que ouve as palavras, mas não tem certeza de que elas identificam algo na realidade, ter certeza de que tem em mente um objeto, um ser insuperável ou uma ilha abençoada que deve, por sua natureza, existir não apenas em sua mente, mas também na realidade. Ela não pode negar que tem em mente as palavras, ou que tem em mente o que elas significam, pois as entende. Mas pode se perguntar se tem em mente algo descrito por elas, pois pode entender que tem algo em mente, dada a forma como essas palavras descrevem as coisas, se e somente se tais coisas existem na realidade.

 

Gaunilo não diz que não há uma coisa maior do que a qual nada maior pode ser pensado. Deduz-se que ele pessoalmente pensa que existe tal coisa. Ele certamente não diz que não tem essas palavras em mente quando lê as inscrições de Anselmo, ou que não as compreende e não tem em mente o que significam. Podemos deduzir, além disso, que ele não encontra contradição nessas palavras. O que ele nega é que, de sua compreensão dessas palavras, e podemos acrescentar, de não haver contradição nelas, segue-se que ele tenha em mente algo que deve ser tudo o que essas palavras implicam, incluindo, em particular, ser, ou existir, na realidade. Ele nega essa inferência, a inferência essencial do argumento preliminar de Anselmo, que colocaria algo maior do que o qual nada maior pode ser pensado na mente.

Devemos reconhecer, contudo, que ele nega essa inferência apenas com dificuldade, e não de uma maneira que esclareça seus fundamentos ou ilumine completamente o problema da inferência. O problema com o argumento preliminar de Anselmo para a existência de um ser insuperável na mente é essencialmente o problema que estraga um argumento preliminar muito semelhante no próximo capítulo para a possibilidade lógica de um ser insuperável (ou "existência em algum mundo possível"). "A explicação mais precisa" (adaptando palavras de Hume 1902, p. 33n) por Charles Hartshorne do argumento de Anselmo em termos de modalidades lógicas (Seção 2 do próximo capítulo) e a explicação mais precisa desta objeção de Gaunilo expressa nestes termos (Seção 7 do próximo capítulo) "darão evidências adicionais" a esta objeção. Compreensibilidade e coerência conceitual não implicam possibilidade lógica (Seção 8 do próximo capítulo). Gaunilo, antecipando Leibniz, disse efetivamente a Anselmo: "Você não provou a possibilidade disso" (Seção 2.4 acima) e, antecipando, além de Leibniz, Rowe queria dizer algo como: "Você não provou a possibilidade disso, porque não é suficiente para a possibilidade de um tipo de coisa que haja palavras compreensíveis para o tipo, ou mesmo que não haja contradição em seu pensamento, e você não forneceu nada mais à possibilidade de um ser insuperável do que isso". A compreensibilidade e a concebibilidade de um tipo de coisa e a ausência de contradição em sua descrição são particularmente insuficientes para sua possibilidade, se for um tipo de coisa que, por suas naturezas definidas, realmente existiria! Aqui, incidentalmente, está outra razão pela qual não pode haver mal algum em incluir a existência na definição de um tipo de coisa. O argumento de Anselmo tinha mais a seu favor do que o de Descartes. Essa objeção que afirmo que Gaunilo levantou contra ela é mais profunda e importante do que a "objeção da ilha perfeita", pela qual ele é famoso. Mais sobre o argumento e essa objeção serão abordados no capítulo.

 

Notas

 

46. ​​Penso que, para Anselmo, as coisas que "existem na mente" abrangiam absolutamente tudo e, hoje em dia, seriam consideradas coisas que existem em um ou outro mundo possível, isto é, todas as coisas possíveis. É provável que Anselmo sustentasse que tudo o que "existe na mente" na verdade existe em uma mente, a saber, a de Deus. É provável que ele aderisse a um "realismo teomodal", segundo o qual as possibilidades são reais na mente de Deus. Mas isso é distinto da posição de que não há nada que não esteja "na mente", o que é simplesmente uma maneira mentalista de dizer que "os quantificadores devem abranger todas as coisas possíveis". A provável tese adicional de Anselmo sobre o realismo teomodal pode ser comparada ao realismo modal de David Lewis, segundo o qual toda coisa possível está na verdade em um mundo possível que é "tão real quanto", visto que é o mesmo tipo de coisa que este nosso mundo em que vivemos e respiramos. Meu realismo modal, explicado no Apêndice A do próximo capítulo, é diferente disso. A provável tese adicional de Anselmo sobre o realismo teomodal também pode ser considerada em relação ao "argumento principal" de George Berkeley para mostrar que nada como uma árvore pode existir "por si só, independente e não percebido por qualquer mente" (Berkeley 1965, p. 164), discutido em Sobel (1991b).

47. Seu argumento não compromete Anselmo com a visão de que tudo o que existe na mente pode ser pensado como existindo também na realidade. Ele precisa sustentar apenas que isso é assim para algo-além-do-qual-nada-maior-pode-ser-pensado de que ele está falando. Ele poderia, sem comprometer sua argumentação, dizer que algo-do-que-nada-na-realidade-que-é-menor-pode-ser-pensado pode existir apenas na mente, visto que não existe uma "coisa real menos possível". Ele poderia dizer o mesmo de (para cunhar uma palavra) uma imagem pictórica, onde esta é, por definição, uma imagem realizada.

48. Gellman enfatiza que, no terceiro estágio, Anselmo argumenta que esse ser é Deus. Isso é oferecido como evidência de que Anselmo nem sempre considerou "Deus" e "aquilo do qual nada maior pode ser concebido" como "semanticamente equivalentes". Gellman pensa, no entanto, que há evidências de que Anselmo às vezes os considerou equivalentes. Gellman cita duas passagens. Primeiro, Anselmo promete em seu prefácio uma prova da existência de Deus. Gellman pensa que esta só pode ser a prova, no Proslogion II, da existência de um ser do qual nada maior pode ser concebido. Em segundo lugar, segundo Gellman, Anselmo afirma que até mesmo o Louco deve concordar que aquilo do qual nada maior pode ser concebido existe em seu entendimento, porque esse Louco disse que não há Deus. Essas passagens, creio eu, são consistentes com a visão, às vezes assumida por Anselmo, de que "Deus" e "aquilo do qual nada maior pode ser concebido" não são semanticamente equivalentes. Primeiro, a prova prometida da existência de Deus pode ser composta de argumentos no Proslógio II e III. Seu objetivo, expresso metalinguísticamente, poderia ser considerado mostrar que os antigos equivalentes referenciais do nome "Deus" não se extraviaram, no que seriam atos iniciais de nomeação, que cadeias referenciais que remontam ao que se supõe terem sido atos iniciais ou atos de nomeação genuína não "levam a lugar nenhum" (Gellman 1995, p. 543n2). Segundo, Anselmo não afirma que o Louco deve concordar que possui esse ser em seu entendimento, porque disse que não há Deus. Anselmo afirma que “certamente, quando este mesmo Louco ouve o que estou falando... ele entende o que ouve, e o que ele entende está em sua mente” (Proslogion II). Anselmo está dizendo que este Louco certamente entende ‘algo-além-do-qual-nada-maior-pode-ser-pensado’.

49. Pode-se preferir um argumento subsidiário para (6) a partir de (4) e (5) que ‘separa os casos’ sob a disjunção, ou j existe na realidade ou j não existe na realidade. O argumento subsidiário que apresentei está mais próximo do texto do Proslogion II.

50. Tendo provado que (x)[Gx (Mx & Rx)] para Anselmo na seção anterior, havia, portanto, usando esse resultado, um curto caminho da premissa de que (x)(Gx & Mx) para a conclusão (x)[Gx & (Mx & Rx)]. O leitor pode desejar construir uma derivação no sistema da Seção B3 do Apêndice B do próximo capítulo para o argumento, (x)[Gx (Mx & Rx)] ((x)(Gx & Mx) ≡ (x)[Gx & (Mx & Rx)]).


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