Resumo
Acho que há
muita coisa sobre a filosofia contemporânea da religião que deveria mudar. Mais
importante, a filosofia da religião deveria ser filosofia da religião, não
meramente filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de
certas denominações do cristianismo, ou coisas do tipo. Aqui, no entanto, vou
reclamar de um aspecto bastante estrito da filosofia contemporânea da religião
que realmente me irrita: sua obsessão com derivações que têm como conclusão a
afirmação de que Deus existe ou a afirmação de que Deus não existe. Vou me
esforçar aos poucos.
1
Suponha que
PRO e CON estejam discutindo sobre ALEGAÇÃO (Também PROPOSIÇÃO ou SENTENÇA DECLARATIVA
se preferirem): PRO diz que ALEGAÇÃO é verdadeira; CON diz que ALEGAÇÃO é
falsa. Suponha, ainda, que PRO acredita em todos os p¹,...,pn, . . ., ALEGAÇÃO,
q¹,...,qm, . . ., e que CON acredita em todos os p¹,...,pn, ...,∼ALEGAÇÃO, ∼q¹,...,∼qm, . . . Se PRO apresenta uma
derivação para CON, com ALEGAÇÃO como sua conclusão, quais condições essa
derivação deve satisfazer se for para constituir um movimento válido em sua
disputa?
As derivações
que PRO pode oferecer para CON são de dois tipos.
Primeiro, há
derivações nas quais as premissas são todas as alegações que CON aceita:
alegações entre o pi e o ∼qj.
Uma derivação adequada de ALEGAÇÃO a partir de premissas entre pi e ∼qj pode criar um problema sério para
CON: afinal, por um lado, ele acredita em ∼ALEGAÇÃO;
e, por outro lado, há uma derivação de ALEGAÇÃO a partir de outras coisas em
que ele acredita. A menos que a derivação seja de um tipo que apenas forneça
suporte muito fraco para conclusões dadas premissas, a derivação dá a CON razão
para reconsiderar suas crenças.
Segundo, há
derivações nas quais uma ou mais premissas é uma afirmação que PRO aceita e CON
rejeita: uma ou mais premissas está entre qj. Neste caso, mesmo que haja uma derivação
adequada de ALEGAÇÃO a partir dessas premissas, a derivação não cria nenhum
problema para CON. Afinal, PRO e CON já sabem — pelo fato de discordarem sobre ALEGAÇÃO
— que você pode derivar uma contradição se juntar afirmações nas quais PRO
acredita com afirmações nas quais CON acredita. É absurdo afirmar que a
derivação de ALEGAÇÃO de ALEGAÇÃO constitui um movimento que vale a pena fazer
em disputa sobre ALEGAÇÃO; não é menos absurdo afirmar que apresentar uma
derivação de ALEGAÇÃO com um ou mais dos qj entre suas premissas é um movimento
que vale a pena para PRO fazer.
No caso de
PRO e CON, então, os únicos tipos de derivações que têm ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO como sua conclusão que
constituem contribuições valiosas para sua disputa sobre ALEGAÇÃO são reductios
(Reduções ao absurdo): derivações que estabelecem um conflito entre crenças –
incluindo ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO
– todas as quais são mantidas por uma das partes na disputa.
Claro, PRO e
CON são altamente idealizados. Em um caso mais realista, haverá alegações em
que um acredita, mas sobre as quais o outro retém opinião; e haverá alegações
em que um acredita, mas que o outro nem mesmo considerou; e pode até haver
alegações em que um acredita, mas com relação às quais o outro nem mesmo tem os
conceitos necessários para formulá-la. Além disso, em casos mais realistas, os
disputantes não sabem exatamente no que seus interlocutores acreditam (além de
alegações que foram explicitamente apresentadas como parte de sua disputa).
No entanto,
mesmo nesses casos mais complicados, a lição básica permanece a mesma. O primeiro
passo a ser dado, antes de estabelecer uma derivação com ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO como sua conclusão, é
estabelecer que seu oponente acredita em todas as premissas que figuram na
derivação que você está tentado a dar. Se seu oponente não acredita em uma ou mais
dessas premissas, então não há nenhum propósito útil que seja atendido por seu
procedimento para dar essa derivação. É verdade que, se houver premissas em sua
derivação que seu oponente não tenha considerado anteriormente, então sua
derivação pode levar seu oponente a considerar e então aceitar essas premissas
- e então, após aceitar essas premissas, sua derivação estabelecerá que seu
oponente tem algum trabalho cognitivo a fazer. Mas, em primeira instância, tudo
o que é necessário é que você apresente as premissas em questão ao seu
oponente: fornecer uma derivação é supérfluo se (a) seu oponente não aceitar as
premissas quando elas são apresentadas, ou (b) seu oponente for capaz de
discernir a implicação da aceitação das premissas sem que lhe seja apresentada
a derivação.
2
Qualquer
disputa entre duas pessoas é uma questão altamente idiossincrática: uma
derivação que faria avançar uma disputa entre duas pessoas pode muito bem não
ter nenhum significado mais amplo. Além disso, o mesmo é verdade para disputas
entre populações particulares de pessoas: estas também podem não ter nenhum
significado mais amplo. Do ponto de vista da filosofia, o que realmente nos
interessa são as teorias que incluem alegações de interesse: ALEGAÇÃO e ∼ALEGAÇÃO, respectivamente. Se temos
uma derivação que estabelece, ou mesmo que apenas parece estabelecer, que uma
melhor teoria que inclui ∼ALEGAÇÃO
é – ou, mais fortemente, que todas as melhores teorias que incluem ∼ALEGAÇÃO são – sujeitas a reductio,
então temos uma derivação com ∼ALEGAÇÃO
como conclusão que é digna de atenção filosófica séria. Além disso, é somente
se tivermos uma derivação que estabeleça, ou mesmo que meramente pareça
estabelecer, que uma melhor teoria que inclua ∼ALEGAÇÃO é– ou, mais fortemente, que
todas as melhores teorias que incluam ∼ALEGAÇÃO
são– sujeitas a reductio, então temos uma derivação com ∼ALEGAÇÃO como conclusão que é digna de
atenção filosófica séria.
Suponha que
ALEGAÇÃO seja uma afirmação sobre a qual há desacordo generalizado entre
filósofos. Como uma derivação com ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO como conclusão pode
contribuir para essa disputa? Sugiro que pensemos sobre esse assunto nos
seguintes termos.
No início,
devemos tentar o máximo que pudermos para enquadrar as melhores teorias que
incorporem ALEGAÇÃO e ∼ALEGAÇÃO.
Em particular, devemos tentar produzir as melhores teorias que sejam elaboradas
com o mesmo nível de detalhes, que tentem cobrir a mesma gama de dados e assim
por diante. Uma vez que temos nossas melhores teorias – TALEGAÇÃO e T∼ALEGAÇÃO, há um processo de avaliação
de dois estágios.
Primeiro,
consideramos se qualquer uma das teorias pode ser derrotada em bases internas:
isto é, consideramos se qualquer uma das teorias é vulnerável à redução ao
absurdo. É aqui que entra a derivação com ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO como conclusão: uma derivação
desse tipo pode ser usada para mostrar que uma melhor teoria é derrotada em
bases internas.
Segundo, se
nossas melhores teorias sobrevivem ao escrutínio interno, então nos voltamos
para a avaliação comparativa das virtudes teóricas de nossas melhores teorias:
qual pontua melhor na ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados,
escopo explicativo, precisão preditiva e assim por diante. Nesta parte da
avaliação da teoria, não há evidentemente um papel adequado para a derivação
com ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO
como conclusão.
Claro, dizer
que não há um papel apropriado para derivação com ALEGAÇÃO ou ∼ALEGAÇÃO como conclusão na segunda
parte da avaliação da teoria não é dizer que não há um papel apropriado para
derivação na segunda parte da avaliação da teoria. Para avaliar uma teoria,
precisamos saber quais afirmações são parte da teoria; e qualquer afirmação(alegação)
que seja derivável de afirmações(alegações) em uma teoria é parte dessa teoria.
Mas já sabemos que ALEGAÇÃO e ∼ALEGAÇÃO
são partes das respectivas teorias; não precisamos usar derivações para
estabelecer esse fato.
O ponto
levantado no último parágrafo merece ser repetido. Minha afirmação é que, no
caso de disputa sobre ALEGAÇÃO, a única contribuição que derivações com
conclusão ALEGAÇÃO ou conclusão ∼ALEGAÇÃO
podem fazer para a resolução da disputa está em fornecer reductios das melhores
teorias que incorporam ∼ALEGAÇÃO
ou melhores teorias que incorporam ALEGAÇÃO. Minha afirmação não diz nada sobre
as contribuições que derivações com outras conclusões podem fazer para a
resolução desta disputa; e minha afirmação também não diz nada sobre outras
contribuições que derivações podem fazer para a prática da filosofia.
3
Filósofos
reivindicaram virtudes para derivações com conclusão ALEGAÇÃO ou conclusão ∼ALEGAÇÃO mesmo reconhecendo que suas
derivações não fornecem reduções das melhores teorias que incorporam ∼ALEGAÇÃO ou das melhores teorias que
incorporam ALEGAÇÃO. Alguns dizem que ter tais derivações pode aumentar o valor
das crenças de alguém, aumentando a confiança com que essas crenças são
mantidas; ou tornando as crenças de alguém mais resilientes e menos propensas a
derrota; ou tornando o sistema de crenças de alguém mais coerente; ou tornando
o sistema de crenças de alguém uma base mais confiável para lançar argumentos
contra outros; ou gerando uma compreensão maior do sistema de crenças de
alguém. Alguns dizem que ter tais derivações fornece segurança contra dias
sombrios nos quais você passa a ter dúvidas sobre suas crenças. Alguns dizem
que ter tais derivações pode revelar conexões interessantes e importantes entre
as crenças de alguém. Alguns dizem que tais derivações podem ser usadas para
mostrar aos oponentes que uma posição específica é uma opção intelectual
legítima.
A maioria
dessas alegações são claramente equivocadas. Suponha que sua visão seja
TALEGAÇÃO e a visão de seus oponentes seja T∼ALEGAÇÃO. Suponha — para fins de
argumentação — que nenhuma das visões esteja sujeita à derrota interna, mas que
T∼ALEGAÇÃO
seja muito mais virtuosa teoricamente do que TALEGAÇÃO — ou seja, T∼ALEGAÇÃO pontua muito melhor do que
TALEGAÇÃO na ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados, escopo
explicativo, precisão preditiva e assim por diante. Nessas circunstâncias,
seria obviamente um erro supor que ter derivações de ALEGAÇÃO de um monte de
alegações que pertencem a TALEGAÇÃO deveria aumentar a credibilidade que você
atribui a TALEGAÇÃO contra a credibilidade que você atribui a T∼ALEGAÇÃO; ou que isso torna TALEGAÇÃO
mais resiliente e menos sujeito a derrota por T∼ALEGAÇÃO; ou que isso de alguma forma
aumenta a coerência das crenças de alguém de uma forma que melhora a posição de
TALEGAÇÃO em relação a T∼ALEGAÇÃO;
ou que isso torna TALEGAÇÃO uma base mais confiável para lançar argumentos
contra T∼ALEGAÇÃO;
ou que isso fornece seguro contra o seu reconhecimento de que você deve
abandonar TALEGAÇÃO em favor de T∼ALEGAÇÃO;
ou que isso lhe dá munição para mostrar aos seus oponentes que a posição que
você adotou é uma opção intelectual legítima.
As alegações
restantes são claramente insignificantes. Talvez possa haver alguma verdade na
alegação de que ter derivações de ALEGAÇÃO de um monte de alegações que
pertencem a TALEGAÇÃO pode gerar uma compreensão maior do sistema de crenças de
alguém, e que pode revelar conexões interessantes e importantes entre as
crenças de alguém. Mas a compreensão, o interesse e a importância em questão
não podem ter nada a ver com razões para preferir TALEGAÇÃO a teorias
concorrentes como T∼ALEGAÇÃO.
Não nego que há questões interessantes sobre, por exemplo, as axiomatizações
mais econômicas de teorias concorrentes. No entanto, também acho óbvio que não
devemos tomar isso como um foco crucialmente importante de investigação
filosófica.
4
Aqui está um
formato padrão para um artigo em filosofia da religião. (1) Forneça algumas observações
introdutórias que formam o plano de fundo para a discussão subsequente. (2)
Declare um argumento — seja com a conclusão de que Deus existe, ou a conclusão
de que Deus não existe — em formato padrão. (3) Dê uma derivação que estabeleça
que a conclusão do argumento está apropriadamente relacionada às premissas. (4)
Defenda as premissas do argumento, apelando mais ou menos frequentemente ao
fato de que as premissas parecem razoáveis para o autor. (5) Responda às
objeções, incluindo, em particular, a acusação de que seu argumento é uma
petição de princípio. (6) Conclua que seu argumento é um argumento bom ou
bem-sucedido para sua conclusão.
Nenhum artigo
que esteja em conformidade com este formato deve ver a luz do dia. Isso não
ocorre porque sabemos com certeza que existem teorias teístas e ateístas que
sobrevivem à derrota interna. Acho que sabemos que não estamos atualmente em
posse de reduções das teorias teístas e ateístas ao absurdo; mas, mesmo que eu
esteja certo sobre isso, é no mínimo concebível que um dia tenhamos reductios
de todas as melhores teorias teístas ou reductios de todas as melhores teorias
ateístas.
O problema
real está em (4) e (5). Para "defender" as premissas do seu
argumento, o que você precisa fazer — e tudo o que você precisa fazer — é
estabelecer que essas premissas são todas partes de alguma melhor teoria
particular que implica — ou talvez até mesmo todas as melhores teorias que
implicam — a falsidade da conclusão do argumento declarado. Se as premissas são
apoiadas pelas intuições do autor é, claro, totalmente irrelevante: se há
alguma intuição que conta, ela pertence àqueles que ocupam a posição oposta.
Além disso, e exatamente pelas mesmas razões, não há necessidade de se
preocupar em "implorar a questão": ao dar uma reductio, você tem o
direito de usar qualquer uma das reivindicações às quais aqueles contra quem a
reductio é direcionada estão comprometidos.
Embora seja
menos importante, também pode valer a pena notar que pode haver um problema
adicional com (6). Alguns artigos que se conformam a esse formato padrão alegam
mostrar que a conclusão é fracamente apoiada pelas premissas: talvez, por
exemplo, que a conclusão seja ligeiramente mais provável, dadas as premissas,
do que seria de outra forma. No entanto, mesmo que nada mais tenha dado errado
com o artigo, isso é insuficiente para estabelecer algo que se possa chamar de
reductio: pois pode muito bem ser que uma afirmação em uma teoria seja quase
certa dado todo o resto da teoria, mas nem um pouco provável dado apenas alguma
parte da teoria.
5
Aqui está um
formato padrão para um curso introdutório em filosofia da religião, ou para uma
seção sobre filosofia da religião em um curso introdutório em filosofia. (1) Dê
um breve relato da avaliação do argumento. (2) Dê um breve relato do teísmo:
tipicamente, uma definição de Deus. (3) Discuta alguns argumentos padrão para a
existência de Deus. (4) Discuta alguns argumentos padrão contra a existência de
Deus. (5) Conclua com alguma discussão sobre a ponderação dos argumentos
apresentados no curso.
Estou tentado
a dizer que nenhum curso que esteja em conformidade com este formato deve ser
autorizado a prosseguir. Mas talvez isso seja ir longe demais. O que está claro
é que um curso com esta estrutura é altamente falho e muito provavelmente
enganará seriamente os alunos.
A filosofia
da religião não deve ser sobre o conjunto padrão de 'argumentos a favor e
contra a existência de Deus'. De fato, a filosofia de Deus não deve ser sobre o
conjunto padrão de 'argumentos a favor e contra a existência de Deus'. Na
medida em que a filosofia da religião — ou filosofia de Deus — se preocupa com
o choque entre as visões de mundo teístas e ateístas, a maneira adequada de
proceder é: (1) desenvolver as melhores teorias teístas e ateístas; (2) avaliar
a responsabilidade dessas melhores teorias para a derrota interna; e (3) fazer
uma avaliação das virtudes teóricas comparativas dessas melhores teorias,
prestando atenção à simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo,
precisão preditiva e assim por diante.
Para que não
se pense que esta proposta é absurdamente radical, deve-se notar que muito do
conteúdo dos cursos atuais em filosofia da religião seria preservado neste novo
cenário. O menu atual de argumentos que é discutido está conectado aos dados —
ou dados putativos — que seriam adequadamente discutidos na comparação entre
visões de mundo teístas e ateístas: haver algo em vez de nada; haver um
universo; haver leis naturais; haver ajuste fino cósmico; haver olhos e
cérebros; haver agentes racionais e conscientes; haver leis morais; haver
ditames da consciência; haver certos textos religiosos; haver certas tradições
religiosas; haver certos tipos de experiência religiosa; haver certos tipos de
eventos milagrosos; e assim por diante.
No entanto,
se nosso interesse é na questão se Deus existe, então deveríamos falar
diretamente sobre se há razão para preferir a hipótese de que Deus existe à
hipótese de que Deus não existe, em vez de diretamente sobre se há argumentos
bem-sucedidos para a alegação de que Deus existe ou para a alegação de que Deus
não existe. É verdade — como acabei de observar — quando falamos diretamente
sobre o conjunto padrão de "argumentos a favor e contra a existência de
Deus", acabaremos falando sobre muitas coisas que têm relação com a
questão se Deus existe. Mas também acabamos falando sobre todos os tipos de
coisas que são irrelevantes para a questão se Deus existe, por exemplo, sobre
se certos tipos de argumentos são ou não petições de princípio.
6
Pode haver
conclusões mais gerais que podemos tirar da nossa discussão. A alegação de que
Deus existe é apenas uma entre muitas alegações filosóficas intensamente
contestadas e perenemente disputadas. Estou inclinado a pensar que, onde quer
que tenhamos alegações filosóficas intensamente contestadas e perenemente
disputadas, há pouco a ser ganho com derivações que tenham essas alegações como
suas conclusões.
Considere a
alegação de que temos livre-arbítrio libertário. Como devemos examinar essa
alegação? Devemos construir as melhores teorias que incorporem a alegação e as
melhores teorias que incorporem sua negação; devemos elaborar essas teorias com
o mesmo nível de detalhes; e devemos avaliá-las com os mesmos padrões em
relação à mesma gama de dados. Primeiro, devemos considerar se essas melhores
teorias podem ser derrotadas em bases internas; e, segundo, devemos fazer uma
avaliação comparativa das virtudes teóricas de nossas melhores teorias em uma
ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo,
precisão preditiva e assim por diante.
Não digo que
seja inconcebível que as melhores teorias que afirmam que temos livre-arbítrio
libertário — ou, alternativamente, que as melhores teorias que afirmam que não
temos livre-arbítrio libertário — estejam todas sujeitas a reductio. No
entanto, digo que não há derivações existentes que forneçam reductios das
melhores teorias de qualquer tipo. Além disso, acho que as derivações
existentes da afirmação de que temos livre-arbítrio libertário e as derivações
existentes da afirmação de que não temos livre-arbítrio libertário sofrem
exatamente dos mesmos tipos de responsabilidades que caracterizam as derivações
existentes da afirmação de que Deus existe e as derivações existentes da
afirmação de que Deus não existe.
No entanto,
se estou certo de que onde quer que tenhamos afirmações filosóficas
intensamente contestadas e perenemente disputadas, há pouco a ser ganho com
derivações que têm essas afirmações como suas conclusões, então pode haver
algumas lições mais amplas para a pedagogia filosófica.
Primeiro —
embora eu admita estar um tanto inseguro sobre isso — acho que pode haver uma
lição para aqueles que ensinam lógica introdutória ou pensamento crítico
introdutório. Nesses tipos de cursos, normalmente apresentamos aos alunos a
distinção entre validade e solidez, e podemos (sem querer) transmitir aos
alunos que o que é realmente importante sobre argumentos é que eles devem ser
sólidos. Mas quando estamos produzindo argumentos reductio, não nos importamos
nem um pouco se nossos argumentos são sólidos: tudo o que importa para nós é
que eles sejam válidos. (De forma mais geral: quando estamos produzindo o que
tenho chamado de argumentos reductio, não nos importamos nem um pouco com a
posição das premissas: tudo o que importa é que o alvo do nosso argumento
acredite em todas as nossas premissas, que nossas premissas realmente apoiem
nossa conclusão e que o alvo do nosso argumento negue essa conclusão.) Dado que
muitos alunos não fazem mais do que lógica introdutória ou pensamento crítico
introdutório, é muito importante que esses alunos saiam desses cursos
entendendo que há argumentos cujo sucesso não depende de forma alguma da
posição de suas premissas. Segundo — com reservas semelhantes — acho que pode
haver uma lição para aqueles que afirmam que a filosofia é toda sobre argumentação.
Algumas
pessoas afirmam que, para ter uma crença justificada em uma questão filosófica
controversa, você precisa ter um argumento: isto é, você precisa ter uma
derivação de sua opinião filosófica controversa de outras alegações (talvez
menos controversas) que você aceita. Deve ser óbvio agora por que estou
inclinado a suspeitar que esse tipo de alegação está seriamente equivocada.
Para ter uma crença justificada em uma opinião filosófica controversa, você
deve ter desenvolvido uma melhor teoria que incorpore a crença em questão, e
você deve ter se convencido de que essa melhor teoria não é superada por uma
melhor teoria existente que incorpore a negação dessa crença filosófica
controversa. Mas você simplesmente não precisa de derivações com a alegação
filosófica controversa como conclusão para fazer essas coisas.
Algumas
pessoas afirmam que, para descobrir o que pensar sobre uma questão filosófica
controversa, você deve somar — ou pesar — os argumentos de ambos os lados.
Novamente, agora deve ser óbvio por que estou inclinado a pensar que esse tipo
de alegação também é seriamente confusa. Na verdade, são as melhores teorias
que incorporam a alegação filosófica controversa e sua negação que devem ser
pesadas uma contra a outra; e, novamente, você simplesmente não precisa de
derivações com a alegação filosófica controversa e sua negação como conclusões
para fazer essas coisas.
7
Também estou
tentado a tirar algumas lições que se aplicam a coisas que filósofos — e não
filósofos — fazem fora da academia. Em particular, acho que há lições aqui para
o debate público sobre afirmações filosóficas intensamente contestadas e
perenemente disputadas.
O debate
público sobre a existência de Deus muitas vezes se apresenta como um choque
entre dois estoques de argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a
conclusão de que Deus não existe. Os teístas têm argumentos ontológicos,
argumentos cosmológicos, argumentos teleológicos, argumentos morais, argumentos
da racionalidade e da consciência, argumentos das escrituras, a aposta de
Pascal e assim por diante; os ateus têm argumentos do mal, argumentos da
ocultação, argumentos da descrença, argumentos do conflito entre ciência e
religião, argumentos da incompatibilidade dos atributos divinos e assim por
diante. A vitória neste debate público vai para o lado que tem os melhores
argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não
existe, ou o lado que é favorecido pelo peso dos argumentos com a conclusão de
que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe, ou talvez até mesmo para
o lado que apresenta mais argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a
conclusão de que Deus não existe.
Eu acho que
os filósofos deveriam estar trabalhando para mudar os termos em que o debate
público sobre a existência de Deus — ou, na verdade, o debate público sobre
qualquer outra afirmação filosófica acaloradamente contestada e perenemente
disputada — é entendido.
Dado um
choque entre duas visões de mundo, a questão básica a ser abordada é se há
razão para preferir uma visão de mundo à outra. Para responder a essa questão,
as tarefas preliminares mais importantes são (a) chegar às melhores formulações
de ambas as visões de mundo; e (b) entender como as virtudes comparativas das
visões de mundo devem ser avaliadas. Embora seja óbvio que não pode haver
avaliação séria de duas visões de mundo que não comece com a formulação
cuidadosa das melhores versões de ambas as visões de mundo — e embora não seja
menos óbvio que não pode haver avaliação séria de duas visões de mundo que não
seja precedida por consideração cuidadosa dos critérios pelos quais os méritos
das visões de mundo devem ser avaliados — a concepção de debate de
"estoque de argumentos" alimenta um clima no qual essas etapas
preliminares essenciais são simplesmente ignoradas. Além disso — como
argumentei nas partes anteriores deste artigo — quando fazemos uma consideração
cuidadosa dos critérios pelos quais os méritos das visões de mundo devem ser
avaliados e então passamos a considerar como as melhores versões de visões de
mundo podem ser ponderadas de acordo com esses critérios, fica claro que o
único papel que pode ser desempenhado por argumentos com a conclusão de que
Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe é fornecer reductios da visão
de mundo oposta. Mas, apesar de todos os argumentos existentes de ambos os
lados nesses debates públicos, é óbvio que esses argumentos não fornecem
reduções da visão de mundo oposta; e, na maioria dos casos, é óbvio que esses
argumentos nem sequer pretendem ser reduções da visão de mundo oposta.
8
Partindo do
pressuposto de que há melhores teorias incorporando ALEGAÇÃO e ∼ALEGAÇÃO que não estão sujeitas à
redução – descrita na seção 1 acima – podemos reimaginar a disputa entre PRO e
CON sobre ALEGAÇÃO como uma disputa entre personificações das melhores teorias
globais incorporando ALEGAÇÃO e ∼ALEGAÇÃO,
TALEGAÇÃO e T∼ALEGAÇÃO.
Se pensarmos na disputa nesses termos, então é óbvio que há infinitas
derivações de ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO, e
que há infinitas derivações de ∼ALEGAÇÃO
de conjuntos de alegações que pertencem a T∼ALEGAÇÃO. Além disso, também é óbvio
que há infinitas derivações altamente complexas de ALEGAÇÃO de grandes
conjuntos de reivindicações que pertencem a TALEGAÇÃO, e que há infinitas
derivações altamente complexas de ∼ALEGAÇÃO
de grandes conjuntos de reivindicações que pertencem a T∼ALEGAÇÃO.
Essas
observações me parecem dar mais peso à afirmação de que o único papel genuíno
que a derivação – com reivindicação filosófica central, intensamente contestada
e perenemente disputada como conclusão – pode desempenhar na decisão entre
visões de mundo é fornecer reductios de visões de mundo que são suscetíveis a
reductio. Se as visões de mundo não são suscetíveis a reductio, então não resta
nada para a derivação com reivindicação filosófica central, intensamente
contestada e perenemente disputada como conclusão – fazer. Em particular, como
acabamos de notar, não há nada a ser ganho pela exibição de derivações de
ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO– ou pela exibição
de derivações de ∼ALEGAÇÃO
de conjuntos de alegações que pertencem a T∼ALEGAÇÃO – já que sabemos a priori que
há infinitamente muitas dessas derivações em cada lado.
Essas
observações também preenchem algumas alegações que fiz na seção 3. Já que há
infinitamente muitas derivações em cada lado, exibir algumas dessas derivações
não pode aumentar a credibilidade de um lado em relação ao outro. Já que há
infinitamente muitas derivações em cada lado, exibir algumas delas não pode
aumentar a resiliência, e reduzir a responsabilidade de derrota, de um lado em
relação ao outro. Já que há infinitamente muitas derivações em cada lado,
exibir algumas delas não pode mostrar que um lado é mais coerente do que o
outro. Como há infinitas derivações de cada lado, exibir algumas delas não pode
estabelecer que um lado seja uma base mais confiável do que o outro para lançar
argumentos contra o lado oposto.
9
Embora seja
um tanto tangencial aos principais objetivos deste artigo, talvez valha a pena
notar que há razões para duvidar que visões de mundo que incorporam afirmações
filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas sejam vulneráveis
à reductio pelas supostas reductios que estão atualmente disponíveis, ou
mesmo pelos tipos de supostas reductios que estão atualmente disponíveis.
Certamente,
às vezes acontece que uma melhor teoria envolvendo uma afirmação filosófica
intensamente contestada e perenemente disputada é derrotada pela reductio: mas,
nesses casos, quase sempre há outras melhores teorias que estão disponíveis
para aqueles inclinados a aceitar a afirmação em questão.
Além disso, o
próprio fato de estarmos lidando com uma afirmação filosófica intensamente
contestada e perenemente disputada sugere que não há uma reductio direta
existente de teorias em nenhum dos lados da disputa: pois, se tais reductios
existissem, então seria inexplicável por que a disputa sobre a afirmação
persiste entre os filósofos. E, além disso, esse mesmo fato sugere que não há
reductios fáceis de teorias em nenhum dos lados dessas disputas que aguardam
descoberta: pois, dada a quantidade de esforço que os filósofos investiram na
busca por tais reductios, seria muito surpreendente se houvesse algumas fáceis
que ainda aguardam descoberta.
Claro, essas
não são razões para supor que seja uma completa perda de tempo continuar
procurando por reductios em conexão com afirmações filosóficas intensamente
contestadas e perenemente disputadas: não há nada nessas considerações que
exclua a descoberta de reductios do teísmo ou reductios do naturalismo. Mas
essas são razões plausíveis para supor que deveríamos investir muito mais do
nosso esforço em pesar as virtudes teóricas do teísmo e do naturalismo, pelo
menos uma vez que tenhamos versões suficientemente bem desenvolvidas do teísmo
e do naturalismo.
Além disso,
se minhas observações nas seções 4–6 forem bem recebidas, então essas
considerações também sugerem que o debate público, a pedagogia filosófica e a
literatura de pesquisa filosófica também devem dar muito mais atenção às
tentativas de pesar as virtudes teóricas do teísmo e do naturalismo, e muito
menos atenção às tentativas de gerar reductios de qualquer uma das visões. Em
particular, se for óbvio que uma suposta reductio requer premissas que não
pertencem à visão de mundo à qual a suposta reductio deve se aplicar, então deve
ser reconhecido por todos os lados — no debate público, ou na sala de aula de
filosofia, ou na literatura filosófica — que não há necessidade de nenhuma
discussão adicional dessa suposta reductio.
10
Como eu disse
no começo, não acho que a filosofia da religião deva ser confundida com a
filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de alguma
denominação particular do cristianismo. No entanto, mesmo que você deseje
seguir a filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de alguma
denominação particular do cristianismo, você não deve cometer o erro de supor
que derivações com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus
não existe são centrais para essa busca, exceto na medida em que você acha que
essas derivações são realmente supostas reductios interessantes da afirmação de
que Deus existe ou da afirmação de que Deus não existe.
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