Autor: Graham Oppy
Tradução: David Ribeiro

Resumo

Acho que há muita coisa sobre a filosofia contemporânea da religião que deveria mudar. Mais importante, a filosofia da religião deveria ser filosofia da religião, não meramente filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de certas denominações do cristianismo, ou coisas do tipo. Aqui, no entanto, vou reclamar de um aspecto bastante estrito da filosofia contemporânea da religião que realmente me irrita: sua obsessão com derivações que têm como conclusão a afirmação de que Deus existe ou a afirmação de que Deus não existe. Vou me esforçar aos poucos.

1

Suponha que PRO e CON estejam discutindo sobre ALEGAÇÃO (Também PROPOSIÇÃO ou SENTENÇA DECLARATIVA se preferirem): PRO diz que ALEGAÇÃO é verdadeira; CON diz que ALEGAÇÃO é falsa. Suponha, ainda, que PRO acredita em todos os p¹,...,pn, . . ., ALEGAÇÃO, q¹,...,qm, . . ., e que CON acredita em todos os p¹,...,pn, ...,ALEGAÇÃO, q¹,...,qm, . . . Se PRO apresenta uma derivação para CON, com ALEGAÇÃO como sua conclusão, quais condições essa derivação deve satisfazer se for para constituir um movimento válido em sua disputa?

As derivações que PRO pode oferecer para CON são de dois tipos.

Primeiro, há derivações nas quais as premissas são todas as alegações que CON aceita: alegações entre o pi e o qj. Uma derivação adequada de ALEGAÇÃO a partir de premissas entre pi e qj pode criar um problema sério para CON: afinal, por um lado, ele acredita em ALEGAÇÃO; e, por outro lado, há uma derivação de ALEGAÇÃO a partir de outras coisas em que ele acredita. A menos que a derivação seja de um tipo que apenas forneça suporte muito fraco para conclusões dadas premissas, a derivação dá a CON razão para reconsiderar suas crenças.

Segundo, há derivações nas quais uma ou mais premissas é uma afirmação que PRO aceita e CON rejeita: uma ou mais premissas está entre qj. Neste caso, mesmo que haja uma derivação adequada de ALEGAÇÃO a partir dessas premissas, a derivação não cria nenhum problema para CON. Afinal, PRO e CON já sabem — pelo fato de discordarem sobre ALEGAÇÃO — que você pode derivar uma contradição se juntar afirmações nas quais PRO acredita com afirmações nas quais CON acredita. É absurdo afirmar que a derivação de ALEGAÇÃO de ALEGAÇÃO constitui um movimento que vale a pena fazer em disputa sobre ALEGAÇÃO; não é menos absurdo afirmar que apresentar uma derivação de ALEGAÇÃO com um ou mais dos qj entre suas premissas é um movimento que vale a pena para PRO fazer.

No caso de PRO e CON, então, os únicos tipos de derivações que têm ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como sua conclusão que constituem contribuições valiosas para sua disputa sobre ALEGAÇÃO são reductios (Reduções ao absurdo): derivações que estabelecem um conflito entre crenças – incluindo ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO – todas as quais são mantidas por uma das partes na disputa.

Claro, PRO e CON são altamente idealizados. Em um caso mais realista, haverá alegações em que um acredita, mas sobre as quais o outro retém opinião; e haverá alegações em que um acredita, mas que o outro nem mesmo considerou; e pode até haver alegações em que um acredita, mas com relação às quais o outro nem mesmo tem os conceitos necessários para formulá-la. Além disso, em casos mais realistas, os disputantes não sabem exatamente no que seus interlocutores acreditam (além de alegações que foram explicitamente apresentadas como parte de sua disputa).

No entanto, mesmo nesses casos mais complicados, a lição básica permanece a mesma. O primeiro passo a ser dado, antes de estabelecer uma derivação com ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como sua conclusão, é estabelecer que seu oponente acredita em todas as premissas que figuram na derivação que você está tentado a dar. Se seu oponente não acredita em uma ou mais dessas premissas, então não há nenhum propósito útil que seja atendido por seu procedimento para dar essa derivação. É verdade que, se houver premissas em sua derivação que seu oponente não tenha considerado anteriormente, então sua derivação pode levar seu oponente a considerar e então aceitar essas premissas - e então, após aceitar essas premissas, sua derivação estabelecerá que seu oponente tem algum trabalho cognitivo a fazer. Mas, em primeira instância, tudo o que é necessário é que você apresente as premissas em questão ao seu oponente: fornecer uma derivação é supérfluo se (a) seu oponente não aceitar as premissas quando elas são apresentadas, ou (b) seu oponente for capaz de discernir a implicação da aceitação das premissas sem que lhe seja apresentada a derivação.

2

Qualquer disputa entre duas pessoas é uma questão altamente idiossincrática: uma derivação que faria avançar uma disputa entre duas pessoas pode muito bem não ter nenhum significado mais amplo. Além disso, o mesmo é verdade para disputas entre populações particulares de pessoas: estas também podem não ter nenhum significado mais amplo. Do ponto de vista da filosofia, o que realmente nos interessa são as teorias que incluem alegações de interesse: ALEGAÇÃO e ALEGAÇÃO, respectivamente. Se temos uma derivação que estabelece, ou mesmo que apenas parece estabelecer, que uma melhor teoria que inclui ALEGAÇÃO é – ou, mais fortemente, que todas as melhores teorias que incluem ALEGAÇÃO são – sujeitas a reductio, então temos uma derivação com ALEGAÇÃO como conclusão que é digna de atenção filosófica séria. Além disso, é somente se tivermos uma derivação que estabeleça, ou mesmo que meramente pareça estabelecer, que uma melhor teoria que inclua ALEGAÇÃO é– ou, mais fortemente, que todas as melhores teorias que incluam ALEGAÇÃO são– sujeitas a reductio, então temos uma derivação com ALEGAÇÃO como conclusão que é digna de atenção filosófica séria.

Suponha que ALEGAÇÃO seja uma afirmação sobre a qual há desacordo generalizado entre filósofos. Como uma derivação com ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como conclusão pode contribuir para essa disputa? Sugiro que pensemos sobre esse assunto nos seguintes termos.

No início, devemos tentar o máximo que pudermos para enquadrar as melhores teorias que incorporem ALEGAÇÃO e ALEGAÇÃO. Em particular, devemos tentar produzir as melhores teorias que sejam elaboradas com o mesmo nível de detalhes, que tentem cobrir a mesma gama de dados e assim por diante. Uma vez que temos nossas melhores teorias – TALEGAÇÃO e TALEGAÇÃO, há um processo de avaliação de dois estágios.

Primeiro, consideramos se qualquer uma das teorias pode ser derrotada em bases internas: isto é, consideramos se qualquer uma das teorias é vulnerável à redução ao absurdo. É aqui que entra a derivação com ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como conclusão: uma derivação desse tipo pode ser usada para mostrar que uma melhor teoria é derrotada em bases internas.

Segundo, se nossas melhores teorias sobrevivem ao escrutínio interno, então nos voltamos para a avaliação comparativa das virtudes teóricas de nossas melhores teorias: qual pontua melhor na ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo, precisão preditiva e assim por diante. Nesta parte da avaliação da teoria, não há evidentemente um papel adequado para a derivação com ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como conclusão.

Claro, dizer que não há um papel apropriado para derivação com ALEGAÇÃO ou ALEGAÇÃO como conclusão na segunda parte da avaliação da teoria não é dizer que não há um papel apropriado para derivação na segunda parte da avaliação da teoria. Para avaliar uma teoria, precisamos saber quais afirmações são parte da teoria; e qualquer afirmação(alegação) que seja derivável de afirmações(alegações) em uma teoria é parte dessa teoria. Mas já sabemos que ALEGAÇÃO e ALEGAÇÃO são partes das respectivas teorias; não precisamos usar derivações para estabelecer esse fato.

O ponto levantado no último parágrafo merece ser repetido. Minha afirmação é que, no caso de disputa sobre ALEGAÇÃO, a única contribuição que derivações com conclusão ALEGAÇÃO ou conclusão ALEGAÇÃO podem fazer para a resolução da disputa está em fornecer reductios das melhores teorias que incorporam ALEGAÇÃO ou melhores teorias que incorporam ALEGAÇÃO. Minha afirmação não diz nada sobre as contribuições que derivações com outras conclusões podem fazer para a resolução desta disputa; e minha afirmação também não diz nada sobre outras contribuições que derivações podem fazer para a prática da filosofia.

3

Filósofos reivindicaram virtudes para derivações com conclusão ALEGAÇÃO ou conclusão ALEGAÇÃO mesmo reconhecendo que suas derivações não fornecem reduções das melhores teorias que incorporam ALEGAÇÃO ou das melhores teorias que incorporam ALEGAÇÃO. Alguns dizem que ter tais derivações pode aumentar o valor das crenças de alguém, aumentando a confiança com que essas crenças são mantidas; ou tornando as crenças de alguém mais resilientes e menos propensas a derrota; ou tornando o sistema de crenças de alguém mais coerente; ou tornando o sistema de crenças de alguém uma base mais confiável para lançar argumentos contra outros; ou gerando uma compreensão maior do sistema de crenças de alguém. Alguns dizem que ter tais derivações fornece segurança contra dias sombrios nos quais você passa a ter dúvidas sobre suas crenças. Alguns dizem que ter tais derivações pode revelar conexões interessantes e importantes entre as crenças de alguém. Alguns dizem que tais derivações podem ser usadas para mostrar aos oponentes que uma posição específica é uma opção intelectual legítima.

A maioria dessas alegações são claramente equivocadas. Suponha que sua visão seja TALEGAÇÃO e a visão de seus oponentes seja TALEGAÇÃO. Suponha — para fins de argumentação — que nenhuma das visões esteja sujeita à derrota interna, mas que TALEGAÇÃO seja muito mais virtuosa teoricamente do que TALEGAÇÃO — ou seja, TALEGAÇÃO pontua muito melhor do que TALEGAÇÃO na ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo, precisão preditiva e assim por diante. Nessas circunstâncias, seria obviamente um erro supor que ter derivações de ALEGAÇÃO de um monte de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO deveria aumentar a credibilidade que você atribui a TALEGAÇÃO contra a credibilidade que você atribui a TALEGAÇÃO; ou que isso torna TALEGAÇÃO mais resiliente e menos sujeito a derrota por TALEGAÇÃO; ou que isso de alguma forma aumenta a coerência das crenças de alguém de uma forma que melhora a posição de TALEGAÇÃO em relação a TALEGAÇÃO; ou que isso torna TALEGAÇÃO uma base mais confiável para lançar argumentos contra TALEGAÇÃO; ou que isso fornece seguro contra o seu reconhecimento de que você deve abandonar TALEGAÇÃO em favor de TALEGAÇÃO; ou que isso lhe dá munição para mostrar aos seus oponentes que a posição que você adotou é uma opção intelectual legítima.

As alegações restantes são claramente insignificantes. Talvez possa haver alguma verdade na alegação de que ter derivações de ALEGAÇÃO de um monte de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO pode gerar uma compreensão maior do sistema de crenças de alguém, e que pode revelar conexões interessantes e importantes entre as crenças de alguém. Mas a compreensão, o interesse e a importância em questão não podem ter nada a ver com razões para preferir TALEGAÇÃO a teorias concorrentes como TALEGAÇÃO. Não nego que há questões interessantes sobre, por exemplo, as axiomatizações mais econômicas de teorias concorrentes. No entanto, também acho óbvio que não devemos tomar isso como um foco crucialmente importante de investigação filosófica.

4

Aqui está um formato padrão para um artigo em filosofia da religião. (1) Forneça algumas observações introdutórias que formam o plano de fundo para a discussão subsequente. (2) Declare um argumento — seja com a conclusão de que Deus existe, ou a conclusão de que Deus não existe — em formato padrão. (3) Dê uma derivação que estabeleça que a conclusão do argumento está apropriadamente relacionada às premissas. (4) Defenda as premissas do argumento, apelando mais ou menos frequentemente ao fato de que as premissas parecem razoáveis ​​para o autor. (5) Responda às objeções, incluindo, em particular, a acusação de que seu argumento é uma petição de princípio. (6) Conclua que seu argumento é um argumento bom ou bem-sucedido para sua conclusão.

Nenhum artigo que esteja em conformidade com este formato deve ver a luz do dia. Isso não ocorre porque sabemos com certeza que existem teorias teístas e ateístas que sobrevivem à derrota interna. Acho que sabemos que não estamos atualmente em posse de reduções das teorias teístas e ateístas ao absurdo; mas, mesmo que eu esteja certo sobre isso, é no mínimo concebível que um dia tenhamos reductios de todas as melhores teorias teístas ou reductios de todas as melhores teorias ateístas.

O problema real está em (4) e (5). Para "defender" as premissas do seu argumento, o que você precisa fazer — e tudo o que você precisa fazer — é estabelecer que essas premissas são todas partes de alguma melhor teoria particular que implica — ou talvez até mesmo todas as melhores teorias que implicam — a falsidade da conclusão do argumento declarado. Se as premissas são apoiadas pelas intuições do autor é, claro, totalmente irrelevante: se há alguma intuição que conta, ela pertence àqueles que ocupam a posição oposta. Além disso, e exatamente pelas mesmas razões, não há necessidade de se preocupar em "implorar a questão": ao dar uma reductio, você tem o direito de usar qualquer uma das reivindicações às quais aqueles contra quem a reductio é direcionada estão comprometidos.

Embora seja menos importante, também pode valer a pena notar que pode haver um problema adicional com (6). Alguns artigos que se conformam a esse formato padrão alegam mostrar que a conclusão é fracamente apoiada pelas premissas: talvez, por exemplo, que a conclusão seja ligeiramente mais provável, dadas as premissas, do que seria de outra forma. No entanto, mesmo que nada mais tenha dado errado com o artigo, isso é insuficiente para estabelecer algo que se possa chamar de reductio: pois pode muito bem ser que uma afirmação em uma teoria seja quase certa dado todo o resto da teoria, mas nem um pouco provável dado apenas alguma parte da teoria.

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Aqui está um formato padrão para um curso introdutório em filosofia da religião, ou para uma seção sobre filosofia da religião em um curso introdutório em filosofia. (1) Dê um breve relato da avaliação do argumento. (2) Dê um breve relato do teísmo: tipicamente, uma definição de Deus. (3) Discuta alguns argumentos padrão para a existência de Deus. (4) Discuta alguns argumentos padrão contra a existência de Deus. (5) Conclua com alguma discussão sobre a ponderação dos argumentos apresentados no curso.

Estou tentado a dizer que nenhum curso que esteja em conformidade com este formato deve ser autorizado a prosseguir. Mas talvez isso seja ir longe demais. O que está claro é que um curso com esta estrutura é altamente falho e muito provavelmente enganará seriamente os alunos.

A filosofia da religião não deve ser sobre o conjunto padrão de 'argumentos a favor e contra a existência de Deus'. De fato, a filosofia de Deus não deve ser sobre o conjunto padrão de 'argumentos a favor e contra a existência de Deus'. Na medida em que a filosofia da religião — ou filosofia de Deus — se preocupa com o choque entre as visões de mundo teístas e ateístas, a maneira adequada de proceder é: (1) desenvolver as melhores teorias teístas e ateístas; (2) avaliar a responsabilidade dessas melhores teorias para a derrota interna; e (3) fazer uma avaliação das virtudes teóricas comparativas dessas melhores teorias, prestando atenção à simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo, precisão preditiva e assim por diante.

Para que não se pense que esta proposta é absurdamente radical, deve-se notar que muito do conteúdo dos cursos atuais em filosofia da religião seria preservado neste novo cenário. O menu atual de argumentos que é discutido está conectado aos dados — ou dados putativos — que seriam adequadamente discutidos na comparação entre visões de mundo teístas e ateístas: haver algo em vez de nada; haver um universo; haver leis naturais; haver ajuste fino cósmico; haver olhos e cérebros; haver agentes racionais e conscientes; haver leis morais; haver ditames da consciência; haver certos textos religiosos; haver certas tradições religiosas; haver certos tipos de experiência religiosa; haver certos tipos de eventos milagrosos; e assim por diante.

No entanto, se nosso interesse é na questão se Deus existe, então deveríamos falar diretamente sobre se há razão para preferir a hipótese de que Deus existe à hipótese de que Deus não existe, em vez de diretamente sobre se há argumentos bem-sucedidos para a alegação de que Deus existe ou para a alegação de que Deus não existe. É verdade — como acabei de observar — quando falamos diretamente sobre o conjunto padrão de "argumentos a favor e contra a existência de Deus", acabaremos falando sobre muitas coisas que têm relação com a questão se Deus existe. Mas também acabamos falando sobre todos os tipos de coisas que são irrelevantes para a questão se Deus existe, por exemplo, sobre se certos tipos de argumentos são ou não petições de princípio.

6

Pode haver conclusões mais gerais que podemos tirar da nossa discussão. A alegação de que Deus existe é apenas uma entre muitas alegações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas. Estou inclinado a pensar que, onde quer que tenhamos alegações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas, há pouco a ser ganho com derivações que tenham essas alegações como suas conclusões.

Considere a alegação de que temos livre-arbítrio libertário. Como devemos examinar essa alegação? Devemos construir as melhores teorias que incorporem a alegação e as melhores teorias que incorporem sua negação; devemos elaborar essas teorias com o mesmo nível de detalhes; e devemos avaliá-las com os mesmos padrões em relação à mesma gama de dados. Primeiro, devemos considerar se essas melhores teorias podem ser derrotadas em bases internas; e, segundo, devemos fazer uma avaliação comparativa das virtudes teóricas de nossas melhores teorias em uma ponderação adequada de simplicidade, ajuste com dados, escopo explicativo, precisão preditiva e assim por diante.

Não digo que seja inconcebível que as melhores teorias que afirmam que temos livre-arbítrio libertário — ou, alternativamente, que as melhores teorias que afirmam que não temos livre-arbítrio libertário — estejam todas sujeitas a reductio. No entanto, digo que não há derivações existentes que forneçam reductios das melhores teorias de qualquer tipo. Além disso, acho que as derivações existentes da afirmação de que temos livre-arbítrio libertário e as derivações existentes da afirmação de que não temos livre-arbítrio libertário sofrem exatamente dos mesmos tipos de responsabilidades que caracterizam as derivações existentes da afirmação de que Deus existe e as derivações existentes da afirmação de que Deus não existe.

No entanto, se estou certo de que onde quer que tenhamos afirmações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas, há pouco a ser ganho com derivações que têm essas afirmações como suas conclusões, então pode haver algumas lições mais amplas para a pedagogia filosófica.

Primeiro — embora eu admita estar um tanto inseguro sobre isso — acho que pode haver uma lição para aqueles que ensinam lógica introdutória ou pensamento crítico introdutório. Nesses tipos de cursos, normalmente apresentamos aos alunos a distinção entre validade e solidez, e podemos (sem querer) transmitir aos alunos que o que é realmente importante sobre argumentos é que eles devem ser sólidos. Mas quando estamos produzindo argumentos reductio, não nos importamos nem um pouco se nossos argumentos são sólidos: tudo o que importa para nós é que eles sejam válidos. (De forma mais geral: quando estamos produzindo o que tenho chamado de argumentos reductio, não nos importamos nem um pouco com a posição das premissas: tudo o que importa é que o alvo do nosso argumento acredite em todas as nossas premissas, que nossas premissas realmente apoiem nossa conclusão e que o alvo do nosso argumento negue essa conclusão.) Dado que muitos alunos não fazem mais do que lógica introdutória ou pensamento crítico introdutório, é muito importante que esses alunos saiam desses cursos entendendo que há argumentos cujo sucesso não depende de forma alguma da posição de suas premissas. Segundo — com reservas semelhantes — acho que pode haver uma lição para aqueles que afirmam que a filosofia é toda sobre argumentação.

Algumas pessoas afirmam que, para ter uma crença justificada em uma questão filosófica controversa, você precisa ter um argumento: isto é, você precisa ter uma derivação de sua opinião filosófica controversa de outras alegações (talvez menos controversas) que você aceita. Deve ser óbvio agora por que estou inclinado a suspeitar que esse tipo de alegação está seriamente equivocada. Para ter uma crença justificada em uma opinião filosófica controversa, você deve ter desenvolvido uma melhor teoria que incorpore a crença em questão, e você deve ter se convencido de que essa melhor teoria não é superada por uma melhor teoria existente que incorpore a negação dessa crença filosófica controversa. Mas você simplesmente não precisa de derivações com a alegação filosófica controversa como conclusão para fazer essas coisas.

Algumas pessoas afirmam que, para descobrir o que pensar sobre uma questão filosófica controversa, você deve somar — ou pesar — ​​os argumentos de ambos os lados. Novamente, agora deve ser óbvio por que estou inclinado a pensar que esse tipo de alegação também é seriamente confusa. Na verdade, são as melhores teorias que incorporam a alegação filosófica controversa e sua negação que devem ser pesadas uma contra a outra; e, novamente, você simplesmente não precisa de derivações com a alegação filosófica controversa e sua negação como conclusões para fazer essas coisas.

7

Também estou tentado a tirar algumas lições que se aplicam a coisas que filósofos — e não filósofos — fazem fora da academia. Em particular, acho que há lições aqui para o debate público sobre afirmações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas.

O debate público sobre a existência de Deus muitas vezes se apresenta como um choque entre dois estoques de argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe. Os teístas têm argumentos ontológicos, argumentos cosmológicos, argumentos teleológicos, argumentos morais, argumentos da racionalidade e da consciência, argumentos das escrituras, a aposta de Pascal e assim por diante; os ateus têm argumentos do mal, argumentos da ocultação, argumentos da descrença, argumentos do conflito entre ciência e religião, argumentos da incompatibilidade dos atributos divinos e assim por diante. A vitória neste debate público vai para o lado que tem os melhores argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe, ou o lado que é favorecido pelo peso dos argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe, ou talvez até mesmo para o lado que apresenta mais argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe.

Eu acho que os filósofos deveriam estar trabalhando para mudar os termos em que o debate público sobre a existência de Deus — ou, na verdade, o debate público sobre qualquer outra afirmação filosófica acaloradamente contestada e perenemente disputada — é entendido.

Dado um choque entre duas visões de mundo, a questão básica a ser abordada é se há razão para preferir uma visão de mundo à outra. Para responder a essa questão, as tarefas preliminares mais importantes são (a) chegar às melhores formulações de ambas as visões de mundo; e (b) entender como as virtudes comparativas das visões de mundo devem ser avaliadas. Embora seja óbvio que não pode haver avaliação séria de duas visões de mundo que não comece com a formulação cuidadosa das melhores versões de ambas as visões de mundo — e embora não seja menos óbvio que não pode haver avaliação séria de duas visões de mundo que não seja precedida por consideração cuidadosa dos critérios pelos quais os méritos das visões de mundo devem ser avaliados — a concepção de debate de "estoque de argumentos" alimenta um clima no qual essas etapas preliminares essenciais são simplesmente ignoradas. Além disso — como argumentei nas partes anteriores deste artigo — quando fazemos uma consideração cuidadosa dos critérios pelos quais os méritos das visões de mundo devem ser avaliados e então passamos a considerar como as melhores versões de visões de mundo podem ser ponderadas de acordo com esses critérios, fica claro que o único papel que pode ser desempenhado por argumentos com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe é fornecer reductios da visão de mundo oposta. Mas, apesar de todos os argumentos existentes de ambos os lados nesses debates públicos, é óbvio que esses argumentos não fornecem reduções da visão de mundo oposta; e, na maioria dos casos, é óbvio que esses argumentos nem sequer pretendem ser reduções da visão de mundo oposta.

8

Partindo do pressuposto de que há melhores teorias incorporando ALEGAÇÃO e ALEGAÇÃO que não estão sujeitas à redução – descrita na seção 1 acima – podemos reimaginar a disputa entre PRO e CON sobre ALEGAÇÃO como uma disputa entre personificações das melhores teorias globais incorporando ALEGAÇÃO e ALEGAÇÃO, TALEGAÇÃO e TALEGAÇÃO. Se pensarmos na disputa nesses termos, então é óbvio que há infinitas derivações de ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO, e que há infinitas derivações de ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO. Além disso, também é óbvio que há infinitas derivações altamente complexas de ALEGAÇÃO de grandes conjuntos de reivindicações que pertencem a TALEGAÇÃO, e que há infinitas derivações altamente complexas de ALEGAÇÃO de grandes conjuntos de reivindicações que pertencem a TALEGAÇÃO.

Essas observações me parecem dar mais peso à afirmação de que o único papel genuíno que a derivação – com reivindicação filosófica central, intensamente contestada e perenemente disputada como conclusão – pode desempenhar na decisão entre visões de mundo é fornecer reductios de visões de mundo que são suscetíveis a reductio. Se as visões de mundo não são suscetíveis a reductio, então não resta nada para a derivação com reivindicação filosófica central, intensamente contestada e perenemente disputada como conclusão – fazer. Em particular, como acabamos de notar, não há nada a ser ganho pela exibição de derivações de ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO– ou pela exibição de derivações de ALEGAÇÃO de conjuntos de alegações que pertencem a TALEGAÇÃO – já que sabemos a priori que há infinitamente muitas dessas derivações em cada lado.

Essas observações também preenchem algumas alegações que fiz na seção 3. Já que há infinitamente muitas derivações em cada lado, exibir algumas dessas derivações não pode aumentar a credibilidade de um lado em relação ao outro. Já que há infinitamente muitas derivações em cada lado, exibir algumas delas não pode aumentar a resiliência, e reduzir a responsabilidade de derrota, de um lado em relação ao outro. Já que há infinitamente muitas derivações em cada lado, exibir algumas delas não pode mostrar que um lado é mais coerente do que o outro. Como há infinitas derivações de cada lado, exibir algumas delas não pode estabelecer que um lado seja uma base mais confiável do que o outro para lançar argumentos contra o lado oposto.

9

Embora seja um tanto tangencial aos principais objetivos deste artigo, talvez valha a pena notar que há razões para duvidar que visões de mundo que incorporam afirmações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas sejam vulneráveis ​​à reductio pelas supostas reductios que estão atualmente disponíveis, ou mesmo pelos tipos de supostas reductios que estão atualmente disponíveis.

Certamente, às vezes acontece que uma melhor teoria envolvendo uma afirmação filosófica intensamente contestada e perenemente disputada é derrotada pela reductio: mas, nesses casos, quase sempre há outras melhores teorias que estão disponíveis para aqueles inclinados a aceitar a afirmação em questão.

Além disso, o próprio fato de estarmos lidando com uma afirmação filosófica intensamente contestada e perenemente disputada sugere que não há uma reductio direta existente de teorias em nenhum dos lados da disputa: pois, se tais reductios existissem, então seria inexplicável por que a disputa sobre a afirmação persiste entre os filósofos. E, além disso, esse mesmo fato sugere que não há reductios fáceis de teorias em nenhum dos lados dessas disputas que aguardam descoberta: pois, dada a quantidade de esforço que os filósofos investiram na busca por tais reductios, seria muito surpreendente se houvesse algumas fáceis que ainda aguardam descoberta.

Claro, essas não são razões para supor que seja uma completa perda de tempo continuar procurando por reductios em conexão com afirmações filosóficas intensamente contestadas e perenemente disputadas: não há nada nessas considerações que exclua a descoberta de reductios do teísmo ou reductios do naturalismo. Mas essas são razões plausíveis para supor que deveríamos investir muito mais do nosso esforço em pesar as virtudes teóricas do teísmo e do naturalismo, pelo menos uma vez que tenhamos versões suficientemente bem desenvolvidas do teísmo e do naturalismo.

Além disso, se minhas observações nas seções 4–6 forem bem recebidas, então essas considerações também sugerem que o debate público, a pedagogia filosófica e a literatura de pesquisa filosófica também devem dar muito mais atenção às tentativas de pesar as virtudes teóricas do teísmo e do naturalismo, e muito menos atenção às tentativas de gerar reductios de qualquer uma das visões. Em particular, se for óbvio que uma suposta reductio requer premissas que não pertencem à visão de mundo à qual a suposta reductio deve se aplicar, então deve ser reconhecido por todos os lados — no debate público, ou na sala de aula de filosofia, ou na literatura filosófica — que não há necessidade de nenhuma discussão adicional dessa suposta reductio.

10

Como eu disse no começo, não acho que a filosofia da religião deva ser confundida com a filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de alguma denominação particular do cristianismo. No entanto, mesmo que você deseje seguir a filosofia do teísmo, ou filosofia do cristianismo, ou filosofia de alguma denominação particular do cristianismo, você não deve cometer o erro de supor que derivações com a conclusão de que Deus existe ou a conclusão de que Deus não existe são centrais para essa busca, exceto na medida em que você acha que essas derivações são realmente supostas reductios interessantes da afirmação de que Deus existe ou da afirmação de que Deus não existe.


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